30.5.10

Mitos, Ciência e Religiosidade

Artigo de Marcelo Gleiser *

"É possível ser uma pessoa espiritualizada e cética"

Começo hoje com a definição de mito dada por Joseph Campbell, uma dasgrandes autoridades mundiais em mitologia: "Mito é algo que nunca existiu, mas que existe sempre". Sabemos que mitos são narrativas criadas para explicar algo, para justificar alguma coisa. Na prática, não importa se o mito é verdadeiro ou falso; o que importa é sua eficiência.

Por exemplo, o mito da supremacia ariana propagado por Hitler teve consequências trágicas para milhões de judeus, ciganos e outros. O mito que funciona tem alto poder de sedução, apelando para medos e fraquezas, oferecendo soluções, prometendo desenlaces alternativos aos dramas que nos afligem diariamente.

A fé num determinado mito reflete a paixão com que a pessoa se apega a ele. No Rio, quem acredita em Nossa Senhora de Fátima sobe ajoelhado centenas de degraus em direção à igreja da santa e chega ao topo com os joelhos sangrando, mas com um sorriso estampado no rosto. As peregrinações religiosas movimentam bilhões de pessoas por todo o mundo. É tolo desprezar essa força com o sarcasmo do cético. Querendo trazer a ciência para um número maior de pessoas, eu me questiono muito sobre isso.

Como escrevi antes neste espaço, os que creem veem o avanço científico com uma ambiguidade surpreendente: de um lado, condenam a ciência como sendo materialista, cética e destruidora da fé das pessoas. "Ah, esses cientistas são uns chatos, não acreditam em Deus, duendes, ETs, nada!"

De outro, tomam antibióticos, voam em aviões, usam seus celulares e GPSs e assistem às suas TVs digitais. Existe uma descontinuidade gritante entre os usos da ciência e de suas aplicações tecnológicas e a percepção de suas implicações culturais e mesmo religiosas. Como resolver esse dilema?

A solução não é simples. Decretar guerra à fé, como andam fazendo alguns ateus mais radicais, como Richard Dawkin, não me parece uma estratégia viável. Pelo contrário, vejo essa polarização como um péssimo instrumento diplomático. Como Dawkins corretamente afirmou, os extremistas religiosos nunca mudarão de opinião, enquanto um cientista, diante de evidência convincente, é forçado eticamente a fazê-lo. Talvez essa seja a distinção mais essencial entre ciência e religião: o ver para crer da ciência versus o crer para ver da religião.

Aplicando esse critério à existência de entidades sobrenaturais, fica claro que o ateísmo é radical demais; melhor optar pelo agnosticismo, que duvida, mas não nega categoricamente o que não sabe. Carl Sagan famosamente disse que a ausência de evidência não é evidência de ausência.

Mesmo que estivesse se referindo à existência de ETs inteligentes, podemos usar o mesmo raciocínio para a existência de divindades: não vejo evidência delas, mas não posso descartar sua existência por completo, por mais que duvide dela. Essa coexistência do existir e do não-existir é incômoda tanto para os céticos quanto para os crentes. Mas talvez seja inevitável.

A ciência caminha por meio do acúmulo de observações e provas concretas,replicáveis por grupos diferentes. A experiência religiosa é individual e subjetiva, mesmo que, às vezes, seja induzida em rituais públicos. Como escreveu o psicólogo americano William James, a verdadeira experiência religiosa é espiritual e não depende de dogmas. Apesar de o natural e o sobrenatural serem irreconciliáveis, é possível ser uma pessoa espiritualizada e cética.

Einstein dizia que a busca pelo conhecimento científico é, em essência, religiosa. Essa religião é bem diferente da dos ortodoxos, mas nos remete ao mesmo lugar, o cosmo de onde viemos, seja lá qual o nome que lhe damos.

*Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, emHanover (EUA) - Artigo publicado na "Folha de SP, 11/4/2010

27.5.10

Afinal, você quer ou não ser feliz?


Christ of Saint John of the Cross, Salvador Dali

Para onde vais? Tantos milhares de anos são necessários para acordar, mas, por piedade, tu acordarás?
(Christopher Fry)

Costumo mencionar na maioria de minhas matérias que o grito de Aquário é "Filhos, desçam da cruz!", mas infelizmente, muitos de nós, ainda aprisionados pelas correntes da Era de Peixes, que devo admitir, são dificílimas de se romper, não conseguem captar intuitivamente a profundidade que existe por trás dessa pequena frase.

Todos nós, pelo menos em sua maioria, nos acostumamos à imagem de Jesus Cristo pregado na cruz, que, se refletirmos com bastante seriedade, é uma imagem profundamente deprimente.No decorrer de muitas de nossas vidas nos ensinaram que a mensagem que Jesus Cristo nos deixou é uma mensagem de sofrimento. E que esse é um sofrimento que todos nós devemos manter em nossos corações e em nossas vidas. Se você parar para refletir e se aperceber quais sentimentos são desencadeados quando olhamos Sua imagem na cruz, você perceberá que imediatamente a sensação de culpa pelo Seu sofrimento é aflorada, porque nos ensinaram que Ele, o nosso Grande Mestre Jesus, morreu por nós.

Jesus, em sua passagem aqui na Terra, nos deixou uma série de mensagens, que se você estudar com mais profundidade, perceberá que nenhuma delas nos fala de sofrimento, de aprisionamento ou culpa. Todas as mensagens de Jesus nos falam de Amor, Compaixão, Igualdade, Fraternidade, Liberdade, Vida e Verdade. Sentimentos esses que, se verdadeiramente conscientizados e desenvolvidos dentro de nós, nos remetem para bem longe do sofrimento.

O amor, nosso maior legado como humanos, é libertador, assim como a compaixão, a vida e a verdade.

...

Hoje, passados mais de dois mil anos, ainda resistimos à verdade de seus ensinamentos, ainda acreditamos que sua mensagem é de sofrimento, que a imagem que devemos guardar Dele é a de sua dor na cruz. Por que não nos apegamos à imagem e ao júbilo da ressurreição? Por que ainda acreditamos que nosso caminho pela Terra deva ser de sofrimento?

Essa foi nossa durante todos esses séculos, mas agora, a mensagem deve ser reavaliada, pois nosso inconsciente coletivo está carregado de dor e isso deve mudar...

Quando você se olha no espelho, o que enxerga? Você se sente uma pessoa feliz? Como está se sentindo hoje? Radiante, como chispa de Deus que você é? Ou ainda acredita que tem alguma dívida a pagar? Você acha mesmo que está sofrendo porque está cumprindo algum carma? Ou não consegue sair dessa situação porque tem medo?

Todo poder de criação está em você. A religião ortodoxa e o materialismo nos tirou o direito de escolha, sabia? A realidade que vivemos é fruto de uma criação que não é nossa, que foi imposta pelo poder. Pense nisso. A não ser que se sinta feliz com a forma de vida que tem agora. Se esse for o seu caso, que bom que conseguiu criar sua própria realidade, mas essa não é a situação de vida da grande maioria.

Se você está infeliz por algum motivo, não se esqueça que a saída dessa situação está em suas mãos, ou melhor, está em sua mente, em seu poder mental. Você é um filho de Deus, não me canso de dizer isso. Deus é uma Grande Força, e você possui essa força dentro de você, todos nós a possuimos. Aproprie-se desse poder, que é seu! Foi dado a você desde os seus primeiros dias neste planeta, mas somente agora você está se conscientizando que o possui.

Pare agora e reflita, pense, observe-se, observe seus pensamentos, qual a vibração que eles possuem neste exato momento? Sua mente está repleta de bons ou maus pensamentos? Você está se olhando como um ser perfeito ou imperfeito? Você se acha merecedor de tudo aquilo que deseja, ou há um lado em sua mente que diz: Imagina que você conseguirá, isso não é para você! Não se iluda, não dê ouvidos ao seu ego. Você possui uma mente divina e é a ela que deve se unir. Uma mente unida ao seu coração e ao coração do Universo, que é abundante. Uma mente positiva, criativa e repleta de poder. Aproprie-se dessa mente, que é sua! Acredite em você! Desça da cruz, pois foi você mesmo quem se crucificou.

Eunice Ferrari