17.1.10

O Mistério da Providência e da Criação a Partir do Nada

No 11° capítulo, intitulado “O mistério da providência e da criação a partir do nada”, Feuerbach esclarece que a criação e a providência só se revelam no milagre da encarnação, porque a essência é a vontade, a imaginação ilimitada e o nada (pois esses três aspectos significam o poder da arbitrariedade e da plenipotência tão almejadas pelo homem para se tornar absoluto). A criação é a palavra de deus pronunciada, a palavra interior, idêntica ao pensamento. Pronunciar é um ato de vontade, a criação é então um produto da vontade. Assim como o homem afirma no verbo divino a divindade do verbo, afirma ele na criação a divindade da vontade, na verdade não da vontade da razão, mas da vontade da imaginação, da vontade absolutamente subjetiva, ilimitada. O mais elevado clímax do princípio da subjetividade é a criação a partir do nada. Assim, como a eternidade do mundo apenas significa a essencialidade da matéria e a nulidade do mundo. O princípio do mundo é também o princípio do seu fim. A existência ou a não existência depende somente da vontade. A existência do mundo é uma existência momentânea, arbitrária, insegura, isto é, exatamente uma existência nula. A criação a partir do nada é a mais alta expressão da plenipotência. Mas a plenipotência é apenas a subjetividade liberta de todas as limitações objetivas e que festeja a sua liberdade como o mais alto poder e essência: o poder da arbitrariedade. Daí o aparecimento do Milagre como uma criação original e sobrenatural. A providência é a suprema sabedoria com que Deus conduz as atitudes e atos. Portanto, porque a origem dos três reside na vontade do sentimento de exteriorização da natureza subjetiva. É o homem a meta e a base da criação, do milagre e da providência. O homem é a meta porque é o princípio, a realidade e a existência da imortalidade (só o homem verbaliza a eternidade) e o homem, também é a base porque é a essência abstrata que distingue como um outro ser pessoal e busca a conservação de si e do mundo. Para Feuerbach, o criador do mundo é o próprio homem que dá a si mesmo, através da prova ou da consciência de que o mundo foi criado (uma prova da vontade, uma existência impessoal, nula), a certeza da própria importância, verdade e infinitude. Deus é o conceito ou a idéia da personalidade enquanto pessoa; é a subjetividade; é ser-para-si-mesmo, auto-suficiente, posto como essência e existência absoluta. Feuerbach estrutura suas críticas ao panteísmo e ao personalismo por encobrir a verdadeira essência da criação: a antropologia.

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