17.1.10

A Contradição na Teologia Expeculativa

No capítulo 24°, intitulado “A contradição na teologia especulativa”, a argumentação de Feuerbach objetiva expor tal contradição, reafirmando que a personalidade de Deus é o meio através do qual o homem transforma as determinações e concepções da sua própria essência em determinações e concepções de uma outra essência fora dele. A personalidade de Deus nada mais é que a personalidade do homem exteriorizada, objetivada. Para se tornar Deus autônomo e livre de tudo que é humano faz-se dele de preferência uma pessoa formal, real, ao se encerrar nele o seu pensar, mas ao se excluir dele o ser-pensado, que cai fora como um outro ser. A religião transforma também o ser pensado de Deus no pensar-se-a-si-mesmo de Deus. Deus cria para se revelar, já que a criação é a revelação de Deus. Mas para a natureza não existe Deus, mas só para o homem, pelo que também a natureza existe meramente por causa do homem, mas o homem por causa de Deus. No homem Deus se glorifica, pois o homem é o orgulho de Deus. Deus se conhece a si mesmo sem o homem, mas enquanto não existe um outro Eu é ele apenas uma pessoa possível, concebida. Somente quando é posta uma distinção de Deus, o não-divino, só então torna-se Deus consciente de si mesmo. Só quando ele sabe o que não é Deus, sabe ele o que significa ser Deus, conhece ele a felicidade da sua divindade. O homem não é nada sem Deus, mas também Deus não é nada sem o homem, pois só no homem torna-se Deus objeto enquanto Deus, torna-se ele Deus. Só as diversas qualidades do homem estabelecem a diversidade, a base da realidade em Deus. A desgraça do homem é o triunfo da misericórdia divina, a vergonha dos pecados é o prazer da sacralidade divina. O homem é o Deus revelado, pois só no homem se realiza, atua a essência divina como tal. O homem conhece Deus porque Deus se encontra e se conhece nele, se sente como Deus. Mas, somente no homem transformam-se as qualidades divinas em sentimentos, isto é, o homem é o auto-sentimento de Deus – o Deus sentido é o Deus real. Assim como o sentimento da miséria humana é humano, igualmente humano é o sentimento da misericórdia divina. Só o sentimento da dificuldade da finitude é o sentimento da felicidade da infinitude. Onde não está um também não está o outro. Ambos são inseparáveis. Deus é ele mesmo somente no mesmo humano, só na capacidade humana de discernimento, só na duplicidade interior da essência humana. Sendo assim, Feuerbach conclui que o saber que o homem tem de Deus é o saber que tem de si, da sua própria essência. Somente a unidade de essência e consciência é verdade. Onde estiver a consciência de Deus, aí também estará a essência de Deus, portanto, no homem. Toda identidade que não é uma unidade consigo mesma, tem por base uma cisão, uma separação, então é uma contradição consigo mesma e com a inteligência, uma superficialidade, uma fantasia, um contra-senso, uma confusão que se mostra tanto mais profunda quanto mais contraditória e falsa for.

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