17.1.10

Conclusão

No 28º Capítulo, intitulado “Conclusão”, Feuerbach finaliza demonstrando que o conteúdo e objetivo da religião é totalmente humano, nos fazendo ver que o mistério da teologia é a antropologia, que a essência divina é a humana. Pelo fato da religião não reconhecer a humanidade do seu conteúdo, a mudança necessária da história passa justamente por uma tomada de consciência de que Deus nada mais é que a consciência do gênero, e que o homem pode e deve se elevar acima das limitações da sua individualidade ou personalidade, mas não acima das leis, das qualidades essenciais do seu gênero. A relação de Feuerbach com a religião não é somente negativa, mas sempre crítica, procurando separar o que nela há de verdadeiro daquilo que é falso, apoiando-se no princípio de que a verdadeira religião manifesta o espírito humano numa forma inferior de representação, cabendo à filosofia chegar ao mesmo com a forma conceitual superior de representação. A religião é a primeira autoconsciência do homem. Sagradas são as religiões precisamente por serem a transmissão da primeira consciência do homem. Feuerbach antropologiza todas as representações religiosas, o que não significa uma dessacralização do universo, mas algo que resulta numa sacralização do próprio homem. Por ser conhecimento que o homem tem de si mesmo, a religião não deve ser simplesmente abandonada, mas submetida à crítica, para que o momento de conhecimento seja salvo, abandonando-se apenas a falsa representação de que se trataria de um outro do homem. O resultado desta crítica é ao mesmo tempo o autoconhecimento do homem e a sua divinização, passando os predicados de Deus a ser, na consciência crítico-filosófica, predicados do homem. As relações em geral do homem com o homem em todas as suas formas, as relações morais são relações verdadeiramente religiosas. A vida é em geral, em suas relações essenciais, substanciais, efetivamente de natureza divina. A passagem de Feuerbach da teologia para a antropologia não abandona, portanto, o momento do sagrado e nem chega a uma concepção de homem inteiramente secularizada ou dessacralizada. Não se trata também de colocar simplesmente o homem no lugar antes ocupado por deus, mas antes de levar às últimas conseqüências o reconhecimento moderno de que as representações religiosas têm sua origem no homem. Se o homem é a origem do divino, então só pode ele mesmo ser divino, e isto não por participar da natureza de um deus estranho a ele, mas por ser ele mesmo seu próprio deus. “Homo homini Deus est – este é o supremo princípio prático – este é o ponto de transição da história universal”. A nova inflexão antropológica da história estaria, assim, sob o signo de uma nova máxima – Que o homem seja o deus do homem, que o humano seja sagrado para o homem, sagrado por si mesmo, sem a referência a um Deus estranho - Esta seria a máxima da nova era feuerbachiana. A conseqüência desta sacralização do homem é a transformação das relações comuns entre os homens, relações normalmente tidas por profanas, e sem peso religioso, em relações carregadas de sacralidade: “Sagrada é e seja para ti a amizade, sagrada a propriedade, sagrado o casamento, sagrado o bem-estar de cada homem, mas sagrado em e por si mesmo.” A amizade, a prosperidade, etc. estas relações substanciais, são sagradas não por receberem uma benção divina, por participarem de algum modo da natureza de um deus distinto do homem, mas por realizarem por si mesmos a natureza divina do homem.

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