17.1.10

A Contradição na Essência de Deus em Geral"

No 23° Capítulo, intitulado “A contradição na essência de Deus em geral”, Feuerbach inicia colocando que o ponto central da sofística cristã é o conceito de Deus, pois para a teologia Deus é a essência humana e no entanto ele deve ser um outro ser sobre-humano. Ao mesmo tempo que Deus é um ser genérico, puro, mera idéia do ser, ele deve ser também um ser pessoal, individual; da mesma forma que Deus existe, que sua existência é certa e real, ele deve ter uma existência espiritual, não-perceptível como especial. No que Deus deve ser é sempre negado no que se afirma que ele é. Sendo assim, o conceito fundamental é uma contradição que só é ocultada por sofismas.O humanitarismo torna-se o predicado essencial de Deus, mas, ao mesmo tempo significa que Deus é um ser que não existe para si, fora do homem, acima do homem, como um outro ser, é um fantasma, o que o torna portanto extra-humano, um predicado essencial da divindade. Um Deus que não é como nós, que não possui consciência, inteligência, não é um Deus. Mas ao mesmo tempo um deus que não é essencialmente diverso de nós também não é um Deus. Um artifício e pretexto especialmente característico da sofística cristã, é a insondabilidade e incompreensibilidade da essência divina. A infinitude de Deus na religião é uma infinitude quantitativa. Deus é e tem tudo que o homem tem, mas em proporção infinitamente maior. A essência de Deus é a essência da fantasia objetivada. Deus é um ser sensorial, mas abstraído das limitações da sensorialidade, ou seja, o ser sensorial ilimitado. Deus é a existência eterna, é onipotente, onipresente, onisciente. Quanto mais limitado é o horizonte do homem, quanto menos ele sabe sobre história, natureza, filosofia, mais intimamente depende da sua religião. Por isso também o religioso não tem em si nenhuma necessidade da cultura. Quem tem tudo em deus, quem já goza da felicidade celestial na fantasia não sente a carência da cultura. A diferença originariamente apenas quantitativa entre a essência divina e a humana é agora transformada pela reflexão numa diferença qualitativa e assim o que era inicialmente apenas uma efeição, uma expressão imediata da admiração, do entusiasmo, uma impressão da fantasia sobre o espírito, é agora fixado como uma qualidade objetivada, como uma incompreensibilidade real. A expressão predileta da reflexão neste sentido é que sem dúvida compreendemos de deus o que, mas nunca o como. Feuerbach complementa este raciocínio reconhecendo que o predicado do criador cabe essencialmente a Deus, que ele criou o mundo não de uma matéria existente, mas do nada, através apenas da sua onipotência. Mas, como isto é possível é algo que ultrapassa a inteligência de qualquer um. Conclui então que o conceito genérico é claro, mas o conceito especial é obscuro, incerto. O conceito da atividade, do fazer, do criar é em e por si um conceito divino, por isso mesmo é irrefletidamente aplicado em Deus. Porém, sob esta incompreensibilidade está ao mesmo tempo a intenção de distanciar a atividade divina da humana, de impedir a sua semelhança, uniformidade ou mesmo a sua unidade essencial com a humana para transformá-la numa atividade essencialmente diversa.

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