17.1.10

A Contradição na Revelação de Deus

Mas, qual seria o testemunho documental da existência de Deus? É no 22° capítulo, intitulado “A contradição na revelação de Deus”, que Feuerbach procura demonstrar o conceito da existência de Deus associado ao conceito da revelação. A auto-confirmação da existência, o testemunho documental de que Deus existe é a revelação, a palavra de Deus. Deus fala para o homem dando o tom de si mesmo tocando a sua afetividade o que dá a este a certeza da sua existência através da palavra que é revelada e que se torna o evangelho da vida. É portanto através da palavra que Deus se revela, se externaliza, se demonstra ao homem, materializando a certeza e a crença que provam sua existência, pois um Deus que só existe sem se revelar, que só existe através do próprio homem é apenas um Deus abstrato, subjetivo. Somente um Deus que possibilita o conhecimento do homem através de si mesmo é um Deus realmente existente, objetivo. A crença na revelação é a certeza imediata da afetividade religiosa, de que existe o que ela crê, deseja e conhece. Feuerbach considera que a crença na revelação desvenda da maneira mais clara a ilusão característica da consciência religiosa, pois na crença na revelação o homem se nega, vai para fora e para cima de si, opondo a revelação ao saber e à opinião humana. Nela se mostra um saber oculto, o conjunto de todos os mistérios sobrenaturais, que acabam por silenciar a razão. Deus não é livre na razão, ele só pode revelar ao homem o que convém ao homem, o que é adequado a sua natureza como ela é. O que Deus pensa e revela para o homem surge da reflexão sobre a natureza humana. O que chega de Deus no homem vem ao homem somente a partir do homem em deus, isto é chega ao homem consciente a partir da essência do homem, chega do gênero para o indivíduo. Sendo assim qualquer distinção entre a revelação divina e a natureza humana é ilusória, o que serve para confirmar que na revelação o homem também sai de si para voltar novamente e que o mistério da teologia é apenas a atropologia, já que qualquer revelação de Deus é apenas uma revelação da natureza do próprio homem. Na revelação torna-se objeto para o homem a sua natureza oculta. Ele é determinado pela sua essência, mas como se fosse por uma outra essência, efetuando através da ajuda de Deus o que não consegue atingir por si mesmo. O homem projeta espontaneamente através da imaginação a sua essência interior. Deus é esta essência da natureza humana contemplada, personificada, que atua sobre ele através do poder irresistível da imaginação como lei do seu pensar e agir. A crença na revelação atua sobre o homem inculto, corrompe o senso moral, a estética da virtude e mata o mais divino sentimento do homem – o sentimento de verdade. O que está na revelação é verdadeiro, ainda que contradiga diretamente a razão. Mas, quanto mais o homem se distancia da revelação quanto ao tempo, quanto mais a razão amadurece para a autonomia, tanto mais gritante se mostra necessariamente também a contradição entre a razão e a crença na revelação.

Um comentário:

  1. Quem não crê em milagres, nem em Jesus e no que ele fez e quer crer em Deus realmente tem um problema.
    A própria palavra de Deus fala: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
    Não vem das obras, para que ninguém se glorie;
    Efésios 2:8-9

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