17.1.10

O Mistério da Encarnação ou Deus como Entidade do Coração

No 5° capítulo, intitulado “O mistério da encarnação ou Deus como entidade do coração”, Feuerbach explicita que o amor objetivado do humano é o mistério da encarnação, porque “O Deus encarnado é o fenômeno do homem endeusado” (pág. 93). Mas, a elevação do homem a Deus tem como conseqüência o rebaixamento de Deus ao homem. Deus é apresentado por Feuerbach como ser do coração em duas perspectivas: Deus como sujeito do amor objetivado ao homem, cujo exemplo é a encarnação, e o Deus amor como predicado, onde Deus é superior pelo amor infinito, por isso é superior ao fenômeno da encarnação, cuja exemplificação é a oração. A consciência do amor é aquela através da qual o homem se concilia com Deus, ou melhor, consigo, com a sua essência, que ele, na lei, contempla como uma outra essência. A consciência do amor divino ou a contemplação de Deus como um ser humano é o mistério da encarnação, do Deus que se torna carne e homem. A encarnação é apenas o fenômeno real, sensorial da natureza humana de Deus. Não foi por sua própria causa que Deus se tornou homem, mas pela necessidade do homem. A religião estabelece como verdade uma profunda incompreensibilidade: Deus é, ou se torna homem. Essa contradição ocorre porque, confunde os atributos da razão com os do coração. Mas trata-se aqui apenas de um Deus que já em essência é um ser misericordioso, um atributo humano do coração elevado a um atributo da razão. Na doutrina da igreja é dito que não é a primeira pessoa (Deus) que encarna, mas é a segunda pessoa (Cristo). Por isso a afirmação de que a encarnação é um fato puramente empírico ou histórico sobre o qual só se instruí através de uma revelação teológica, é um depoimento do mais estúpido materialismo religioso, porque a encarnação é uma conclusão que se baseia numa premissa muito compreensível. Mas igualmente absurdo é querer deduzir a encarnação de motivos puramente especulativos, metafísicos e abstratos, porque a metafísica pertence somente à primeira pessoa, que não é uma pessoa dramática. Nesse exemplo se evidencia como a antropologia diverge da filosofia especulativa. A antropologia não considera a encarnação como um mistério especial, como faz a especulação ofuscada pelo brilho místico. A antropologia destrói a ilusão que se esconde - o sobrenatural; ela critica o dogma e reduz seus elementos naturais, inatos ao homem, em sua origem e cerne íntimo – o amor.

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