17.1.10

A Contradição da Trindade

No capítulo 25°, intitulado “A Contradição da Trindade”, Feuerbach explicita que o objetivo da teologia não é somente a essência humana ou divina em geral como uma essência pessoal, ela concebe também as características ou distinções fundamentais desta essência novamente como pessoas, ao se referir a Trindade composta pelo Pai, Filho e Espírito Santo. Feuerbach expõe que a Trindade é a contradição entre politeísmo e monoteísmo, fantasia e razão, imaginação e realidade. A fantasia é a Trindade, a razão a unidade das pessoas. Para a razão são os seres diversificados apenas diversidades, para a razão são as diversidades os próprios diversificados que anulam a unidade da essência divina. Para a razão as pessoas divinas são fantasmas, para a imaginação são seres. A Trindade dá ao homem a pretensão de se pensar o contrário do que se imagina e de se imaginar o contrário do que se pensa, pois a Trindade são três pessoas, que não são essencialmente diversas, composta de três pessoas em Deus – Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo – não tendo uma existência separada. Mas, as três pessoas cristãs são apenas pessoas imaginadas, representadas, dissimuladas, certamente diversas das pessoas reais exatamente por serem somente personalidades imaginadas, aparentes, que querem e devem ser ao mesmo tempo pessoas reais. Deus está igualmente nas Três, é o mesmo. Um é o Pai, outro é o filho e o outro o Espírito Santo, mas não ‘outro’, e sim o que o Pai é, é também o Filho e o Espírito Santo, ou seja, são pessoas diversas, mas sem nenhuma diversidade da essência. É neste sentido que Feuerbach diz que as três pessoas da Trindade são fantasmas aos olhos da razão, pois as condições ou determinações através das quais a sua personalidade deveria se afirmar são suspensas pela lei do monoteísmo. A unidade nega a personalidade, a autonomia das pessoas sucumbe sob a autonomia da unidade, pois elas são meras relações. Mas ao mesmo tempo não devem essas relações ser apenas relações de dependências, mas pessoas reais, essências, substâncias. É desta forma, ao desvendar o mistério da Trindade, que Feuerbach demonstra a verdade do politeísmo e a negação na verdade do monoteísmo, concluindo que representar uma verdade diversa da essência humana seria insistir na ilusão, na fantasia, na contradição e no sofisma.

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